sexta-feira, 21 de maio de 2010

A importância da avaliação neuropsicológica em pacientes com Epilepsia

A Epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas mais ou menos evidentes de epilepsia, não significando que o problema tenha menos importância se a crise for menos aparente. As crises podem também, ser derivadas de vários fatores: traumatismo crânio-encefálico; anomalias congênitas; por quedas ou no parto; doenças neurológicas (tumores, doenças degenerativas); e abuso de álcool e drogas, porém, existem casos onde a causa permanece indefinida. Existem fatores precipitadores de novas crises como fadiga, ruídos, e luzes piscantes. Quando uma pessoa apresenta uma crise única convulsiva ou evento epiléptico, sem que exista uma razão fisiológica, não se pode diagnosticá-la como epiléptica.

A epilepsia é uma síndrome que pode trazer alterações nas funções cognitivas, assim como alterações comportamentais. Os déficits apresentados podem ser ou não graves, por isso, a avaliação neuropsicológica é necessária.

Sendo assim, a Neuropsicologia, com suas ferramentas de estudo, visa compreender o desenvolvimento cognitivo, avaliando, por exemplo, as principais funções cognitivas associadas ao foco epiléptico, quando esse estiver determinado. A verificação dessas funções é importante tanto em crianças quanto em adultos. Nas crianças, os principais motivos que levam a uma avaliação neuropsicológica, são dificuldades de aprendizagem que aparecem como queixa da escola e dos familiares.

A avaliação neuropsicológica é considerada como uma das principais ferramentas para compreender o funcionamento cognitivo e buscar soluções para os possíveis déficits existentes. Quanto mais conhecimento sobre a relação das crises epilépticas e as funções cognitivas, melhor poderá ser realizado o diagnóstico, os procedimentos e o desenvolvimento do tratamento das crianças epilépticas.

A avaliação Neuropsicológica pode ser realizada para tratamento cirúrgico e medicamentoso. Os objetivos da avaliação neuropsicológica no contexto pré-operatório para cirurgia de epilepsia são:

1) Determinar o nível de funcionamento cognitivo deste indivíduo antes da cirurgia;

2) Sugerir localização e lateralização da disfunção;

3) Sugerir prognósticos de controle de crises após a cirurgia;

4) Realizar a reavaliação pós-cirúrgica para o acompanhamento da evolução do paciente, orientação educacional, profissional e reabilitação.

A Neuropsicologia realiza então, a análise das funções cognitivas como memória, linguagem, funcionamento intelectual, executivo, entre outos e avalia as mudanças e alterações de comportamento.

O Neuropsicólogo clínico escolhe suas técnicas baseado na sua experiência e treinamento específico, mas tem consciência que os testes não são absolutos, são apenas seus instrumentos. A interpretação dos resultados exige conhecimento mais abrangente dos aspectos afetivos e cognitivos assim como os fatores que podem interferir na execução de uma tarefa. Cada teste deve ser interpretado dentro de um contexto, pois nada substitui o raciocínio clínico.

Já em relação ao tratamento da epilepsia, os objetivos são os de diminuir ao máximo o número das crises epilépticas, promovendo assim a normalidade nas realizações das atividades de vida diária das pessoas e reduzir o uso prolongado da droga antiepiléptica. Muitas dessas drogas podem acarretar efeitos adversos, como sedação, sonolência, distúrbio de cognição, alterações do humor, cefaléia etc. Porém, esta função medicamentosa, é a do médico e não do neuropsicólogo.

A importância dos educadores terem conhecimento sobre as algumas doenças e suas conseqüências na educação deve ser ressaltada. No caso da epilepsia, o professor pode pensar que o mau rendimento do aluno refere-se às crises epilépticas; quando as dificuldades podem ser puramente emocionais. Variáveis ambientais podem interferir no comportamento dos pacientes/alunos e devem ser consideradas. A interferência do ambiente familiar, por exemplo, é relevante principalmente no modo de ação dos pais com relação às crianças epilépticas. Os pais muitas vezes não têm, assim como os professsores, conhecimento sobre epilepsia e acabam agindo com seus filhos de forma superprotetora e permissiva, fazendo com que eles fiquem inseguros e imaturos em seu desenvolvimento.

Não basta falar que a epilepsia pode trazer danos a memória das crianças, deve-se pensar em formas de auxiliar quem já vem apresentando déficits e formas de como intervir previamente para que existam formas compensatórias de evitar futuros agravamentos do quadro. Possíveis intervenções em crianças com epilepsia e problemas de memória:

• Informação: Os pais e professores devem receber uma explicação sobre as reais dificuldades de memória e aprendizagem da criança, além de alternativas para aprendizagem. Pais e professores devem, por exemplo, ter consciência de que a criança pode ou não lembrar-se de algumas coisas.

• A avaliação neuropsicológica da criança deverá dar base para educação desta criança, respeitando suas dificuldades e realçando as potencialidades.

• Utilização, em terapia, de mecanismos externos para auxiliar a memória (Diários, cadernos, agendas). Algumas crianças precisam de métodos combinados como auxílio de um relógio despertador e um caderno para que escreva tudo que precisará realizar durante o dia. Tudo com auxílio dos pais e professores.

• A criança deve utilizar suas próprias habilidades para trabalho das estratégias compensatórias e estratégias trabalhadas em terapia durante a reabilitação. As instruções dadas a ela devem ser diretas e simples.

• Treinamento das habilidades prejudicadas: que dependem da idade, capacidade intelectual, motivação e patologia subjacente. Para criar e treinar as estratégias, na maior parte das vezes, é necessário o auxílio de pais, professores, seguindo as orientações dos terapeutas.



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