segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A importância do brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil

A criança tem prazer em brincar, o que estimula sua criatividade e constrói sua identidade própria. Esta é uma das formas mais espontâneas de as crianças poderem manter um contato melhor com a realidade em que estão inseridas. É brincando também que se aprende com prazer. A brincadeira é a fase mais alta do desenvolvimento da criança, é através das brincadeiras e dos jogos que as crianças expressam o que estão sentindo, como elas enxergam o mundo, procuram entender o mundo dos adultos e também evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e das invenções das brincadeiras feitas por outras crianças e pessoas adultas. Além disso, com estimulação adequada, desenvolvem sua autonomia, criatividade, iniciativa, senso crítico e responsabilidade, tornando-se pessoa, cultivando a autoestima, desenvolvendo um autoconceito positivo, dominando as angústias e proporcionando condições saudáveis para o seu desenvolvimento biopsicossocial.

As primeiras brincadeiras do bebê, que são caracterizadas pela observação e posterior manipulação de objetos, oferecem à criança o conhecimento e a exploração do seu meio através dos órgãos dos sentidos. Logo que a criança começa a falar os jogos de exercícios começam a diminuir e dão espaço aos jogos simbólicos. Próximo ao final desta fase, os jogos simbólicos começam a declinar porque passam a aproximar-se cada vez mais do real. O símbolo perde seu caráter de deformação lúdica e passa a ser uma representação imitativa da realidade. Inicia-se então a estrutura dos jogos de regras, que têm um ponto de partida próximo aos 6 anos e vai até o princípio da adolescência. Para Vygotsky, todas as modalidades de brincadeiras estão inseridas de regras e de faz-de-conta. As regras de uma brincadeira ou jogo estão intimamente ligadas ao conhecimento que as crianças têm da realidade social na qual estão inseridas.

A brincadeira, mesmo sendo livre e não estruturada, possui regras que conduzem o comportamento das crianças. Uma criança que brinca de ser a mamãe com suas bonecas assume comportamentos e posturas pré-estabelecidas pelo seu conhecimento de figura materna. As regras são então partes integrantes do jogo simbólico, já que a criança ensaia comportamentos e papéis, projeta-se em atividades dos adultos, ensaia atitudes, valores, hábitos e situações para os quais não está preparada na vida real. Além disso, de uma forma geral, durante o brincar, a criança vai adquirindo um saber físico e mental, onde ela poderá imaginar, refletir e raciocinar, dando-lhe um prazer da realização da ação.

O jogo pode ser uma forma espontânea para a resolução dos problemas e dificuldades presentes no seu meio, por oferecer situações para se trabalhar a oralidade, a timidez e o raciocínio sem causar frustrações angustiantes, e para isso deve ser conduzido com sabedoria, respeitado as limitações que cada criança apresenta, para surtir um resultado consideravelmente eficaz. Contudo, o jogo deve fornecer regras claras e ter objetivos bem definidos, além, de ter um caráter desafiador e interessante, para atingir um grau elevado de significação e permitir que as crianças se interajam.

Os jogos são importantes na vida de uma criança, pois com eles, há o objetivo de se obter prazer, sendo que não é apenas uma fonte de diversão, mas também propicia situações que podem ser exploradas de diversas maneiras educativas, para isso, quem irá desenvolvê-lo deverá ter objetivos claros e fazer um planejamento prévio. Os jogos se bem aplicados, podem desenvolver a inteligência, funcionamento cognitivo (memória, atenção, visuopercepção, visuoconstrução...), pré requisitos para alfabetização (esquema corporal, coordenação motora fina e grossa, habilidades visuais, auditivas, inserção de regras...), habilidades artísticas e estéticas, afetividade, vivência de regras éticas e o relacionamento social. Existem diversos jogos e atividades que serão citadas em outro artigo, já que este, não tem este objetivo. Dando continuidade ao que estava sendo tratado, o pensamento vem, portanto, da atividade. As atividades envolvidas no processo de aprendizagem são observações, experimentação, reflexão, organização (através da fala, escrita, desenho, movimento) e apresentação do conhecimento adquirido. É a partir desta perspectiva mais abrangente do processo de constituição do indivíduo como ser social, afetivo e cognoscente que devemos pensar o papel do jogo e da brincadeira na aprendizagem. Para atingir as metas que se deseja alcançar na aprendizagem, deve-se realizar um planejamento bem feito, com práticas pedagógicas elaboradas para vencer um jogo, avaliando cada uma das ações, de acordo com a complexidade e número de jogadores envolvidos. Deve-se observar também que cada jogador possui habilidades e limitações e o educador deve estar atento, variando assim os objetivos a serem alcançados. O jogo leva a criança ao convívio com regras, que podem ocorrer de formas diferentes dependendo da fase de desenvolvimento em que a criança se encontra: Em um primeiro momento, a criança desconhece e não consegue seguir as regras (2 aos 5 anos). No estágio seguinte a criança começa a perceber regras externas e procura imitá-las, como uma atitude de respeito. No terceiro estágio, que acontece (a partir dos 10 anos), a regra do jogo se apresenta à criança não mais como uma lei exterior, sagrada, mas como resultado de uma livre decisão e como digna de respeito na medida em que é mutuamente consentida.

Para Piaget, o conhecimento não é um estado, o conhecimento é essencialmente a passagem de um nível de menor conhecimento para um outro de conhecimento mais amplo, motivo pelo qual, ocorre seu desenvolvimento. Assim, a construção intelectual do indivíduo, provém da interação coletiva. O conhecimento é construído pela criança através da interação com o meio. Para conhecer a sua realidade, a criança precisa interar-se com os objetos que a rodeiam.

Consta nas obras de Piaget que na pré-escola, por exemplo, o raciocínio lógico ainda não é suficiente para que a criança dê explicações coerentes a respeito de certas coisas. O poder de fantasiar ainda prepondera sobre o poder de explicar. Então, pelo jogo simbólico, a criança exercita não só sua capacidade de pensar, ou seja, representar simbolicamente suas ações (transforma em pai e mãe, seus bonecos ou diz que uma cadeira é um trem), mas também, suas habilidades motoras, já que salta, corre, gira, transporta, rola, empurra. Este brincar é importante para seu desenvolvimento cognitivo e para o equilíbrio emocional.

O jogo pode ser utilizado ainda, como um recurso pedagógico na alfabetização, pois garante o interesse da criança pelas atividades propostas, fazem com que as mesmas explorem os objetos que as cercam, melhoram sua agilidade física, experimentam seus sentidos e desenvolvem seu pensamento.

A escola exerce um papel fundamental na criação e recriação de pensamentos e percepções, por induzir à aprendizagem, proporcionando-lhes atribuir significado a tudo que os cercam de forma consciente, para que possam enfrentar e resolver os seus problemas.

Em suma, em relação ao desenvolvimento infantil, o brincar pode ser utilizado como uma ferramenta para estimular déficits e dificuldades encontradas em alguns aspectos desenvolvimentais. No que se refere à aprendizagem, utilizar a brincadeira como um recurso é aproveitar a motivação interna que as crianças têm para tal comportamento e tornar a aprendizagem de conteúdos escolares mais atraente.

O jogo é o caminho mais eficiente para a criança conhecer a sua realidade, construir a sua aprendizagem e aperfeiçoar as suas culturas, através da interação com o próximo; além de estimular a valorizar e aceitar o outro como ele é e estruturar sua autoconfiança, com plena satisfação nas trocas recíprocas de experiências. Cabe aos profissionais da educação conhecer o processo de desenvolvimento infantil e repensarem em suas ações para que possam promover um ensino – aprendizagem de qualidade.